sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Hay que buscarse un Amante



Foto de Filipe Pombo, in olhares.com.


Muitas pessoas têm um amante, e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam. Geralmente são estas últimas que vêem ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insónia, apatia, pessimismo, crises de choro, ou as mais diversas dores.
Elas contam-me que as suas vidas correm de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar o tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente a perder a esperança. Antes de me contarem tudo isto, já tinham estado noutros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: "Depressão"... além da inevitável receita do anti-depressivo do momento. Assim, depois de as ouvir atentamente, eu digo-lhes que elas não precisam de nenhum anti-depressivo. Digo-lhes que o que elas precisam é de um Amante!

É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem o meu conselho. Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa destas?!".

Há também as que, chocadas e escandalizadas, despedem-se e não voltam nunca mais. Às que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico-lhes o seguinte: Amante é "aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento antes de adormecermos, e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso Amante é o que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.

Às vezes encontramos o nosso amante no nosso parceiro, outras vezes, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no desporto, no trabalho, na necessidade de nos transcendermos espiritualmente, numa boa refeição, no estudo, ou no prazer obsessivo do nosso passatempo preferido...
Enfim, Amante é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir vivendo". E o que é "ir vivendo"?

"Ir vivendo" é ter medo de viver. É vigiar a forma como os outros vivem, é o deixarmo-nos dominar pela pressão, andar por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastarmo-nos do que é gratificante, observar decepcionados cada ruga nova que o espelho nos mostra, é aborrecermo-nos com o calor ou com o frio, com a humidade, com o sol ou com a chuva. "Ir vivendo" é adiar a possibilidade de viver o hoje, fingindo contentarmo-nos com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.
Por favor, não se contentem com "ir vivendo". Procurem um amante, sejam também um amante e um protagonista da vossa vida...
Acreditem que o trágico não é morrer, porque afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver, por isso, e sem mais delongas, procurem um amante.

A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:
"Para se estar satisfeito, activo, e sentirem-se jovens e felizes, é preciso namorar a vida".





Texto: Dr. Jorge Bucay
Livro: "Hay que buscarse un Amante"

Mafalda Ribeiro =)

12 comentários:

  1. Simplesmente adorei o que li. Mesmo. Faz todo o sentido e, basicamente, vou levar mesmo em consideração!!!

    beijinho

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  2. Muito Bom este Post.

    Sim, realmente as pessoas precisam de aprender a amar, acho que se esqueceram.

    Aprender a viver amando, vivendo a vida de forma apaixonada.:)

    Beijos
    Bom fim de semana

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  3. Já conhecia, recebi esse texto por email.

    Mas é muito certo!

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  4. Alguém diz:

    “Simplesmente adorei o que li. Mesmo. Faz todo o sentido e, basicamente, vou levar mesmo em consideração!!!”

    =)) Se este post te ajudar a melhorar um dia que seja da tua vida, ficarei contente! A verdade é que também eu faço um esforço para o levar em consideração e não me esquecer dele.

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  5. I.D. Pena diz:
    “Muito Bom este Post.”
    Obrigada, também me pareceu por isso a vontade de o querer partilhar. Gostei imenso também.

    ”Sim, realmente as pessoas precisam de aprender a amar, acho que se esqueceram.”

    Ou se esqueceram ou preferem fazer que se esqueceram, é que amar também faz doer…..

    ”Aprender a viver amando, vivendo a vida de forma apaixonada.:)”
    Só assim a realmente vida faz sentido e vale a pena.
    Bom fim de semana

    =) *s

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  6. Cenourices à la Carte disse...
    "Já conhecia, recebi esse texto por email."


    Certíssimo. =)

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  7. É um post lindo e acertado!
    Gosto do viver e não do ir vivendo,gosto de poder viver,de poder saber que amo e que me amam!E como diz o texto,não é preciso que seja aquele amante que todos pensamos,o homem ou a mulher!Há muitos tipos de amantes!Sim =D coisas/pessoas que nos deixam sentir que estamos vivos,que dão sentido à nossa vida!
    Adorei linda!
    Beijinhos♥fifi♥

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  8. Excelente. Viver apaixonado por pessoas, objectivos, actividades,seja o que for .. é viver em pleno.

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  9. Pode-se resumir também talvez em duas palvras: "viver em vez de sobreviver", faz parte de uma atitude mental que pode ser exercitada.

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  10. Encantei-me com esse texto e também pela pessoa que o mostrou-me pela primeira vez(Dr. Carlos Eduardo Salomon), que além de médico mostrou-me com sabedoria a força do amor em nossas vidas.
    Obrigada Dr.Carlos Eduardo, obrigada Dr. Jorge Bucay
    Marta Toledo

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  11. O texto é realmente bonito e convincente. Quem o subscreve é pessoa culta e do conhecimento e por isso mesmo sabe os efeitos (psicológicos) que a sua escrita provoca nos humanos. As manifestações contidas nos comentários precedentes são prova disso. Mas será mesmo assim? Tudo se resume a esta meia dúzia de palavras? Ouvi dizer que o amor não se procura, acontece! Tudo fica mais fácil quando homem ou mulher vivem sem compromisso social/família. Seria no mínimo irracional admitir que a vida só vale pelo, e para o amor. Toda a envolvência da vida, trabalho, saúde, família, filhos merece ser levado em consideração. Partilhar o amor com alguém que se procura ou se procurou é também partilhar tudo o que está subjacente como sendo as dificuldades da vida social. Quem procura o amor e só o amor está condenado a viver amputado da componente da vida que é viver em família na partilha do bom e do menos bom. Fica ainda com a dúvida de que procurando, está sempre no virar da esquina um amor mais forte. Assim, de porta em porta se vai destruíndo. Quantos homens e mulheres, que partiram na procura da vida fácil, de amor em amor e mais amor, com descendentes das várias experiências e que o parceiro(a)recusam, vivem hoje a amargura e angústia de não ter de volta aquilo que foi uma vida alguma vez (se) passada com segurança, amor de família, filhos e amigos, mas quando egoisticamente partiram à procura de melhor condição de vida-amor, concluem que o passado não volta mais! O amor pode ser loucura mas não pode ser nunca irresponsabilidade e cegueira. É crescente a opinião de que a solidariedade é cada vez mais uma prática a promover e suscitar. Esta realidade não decorre apenas da falta de amor. Seria "solo buscarse", como diz o autor. Realidade bem diferente, a solidariedade que se propagandeia resulta da falta de meios de sobrevivência. Solidariedade social e famíliar podem coexistir. Quando a primeira prevalece em prejuízo da família algo não está legal.

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