segunda-feira, 14 de junho de 2010

Amigos Imaginários


«"A Rita tinha quatro anos e já gostava de ajudar a mãe a pôr a mesa, para os pais, para ela e para a irmã, a Berta, de seis anos. Um dia, com os quatro pratos e talheres na mesa, a Rita disse, com o ar mais natural: 'Falta o lugar da Analó.'

A mãe julgou ter entendido mal e, apontando para os lugares, repetiu, porque achava importante ensinar a filha a pôr a mesa: 'Pai, mãe, Berta e Rita.' É o que eu estou a dizer mãe. Falta o lugar da Analó!'.

A mente da mãe reviu e milésimos de segundos todas as bonecas, peluches e livros que tinha no quarto da filha. Analó? Nenhuma, que se lembrasse. Arriscou então: 'Analó, Rita?E quem é?' 'Mãe' - disse a Rita, com expressão de complacência e de compreensão por aquele erro de palmatória maternal - 'A Analó, mãe, a Analó. Está aqui a ajudar-nos a pôr a mesa, acho que também merece comer connosco, ou a mãe não acha?'

A mãe da Rita teve de se sentar e foi incapaz de dizer alguma coisa. Passados uns minutos foi para o quarto desatou a chorar (...).

A Analó era a amiga imaginária da Rita, sua companheira 'real', com quase 'tanta carne e tanto osso' como qualquer um de nós.

E quando tudo foi explicado aos pais, durante uns dias tiveram de se resignar a pôr um prato extra para a Analó, que por sinal detestava brócolos, mas adorava cenoura cozida, exactamente ao contrário de Rita."


O caso é descrito pelo pediatra Mário Cordeiro, no seu "O Livro da Criança", no capítulo que dedica precisamente aos amigos imaginários das crianças que, de acordo com o especialista, "existem mesmo", pelo menos na cabeça delas, e como tal, a sua existência não deve ser negada pelos pais, embora estes também não devam encorajar em demasia.

"Os pais e os educadores devem lidar com os amigos imaginários das crianças de um modo natural, pelo menos até aos seis anos de idade, porque estes existem verdadeiramente na mente da criança e ao serem amigos dela, também são amigos dos pais", explica Mário Cordeiro, salientando que entre os três e os cinco anos de idade é perfeitamente normal que as crianças tenham amigos imaginários.

O seu aparecimento pode dever-se a vários factores, desde a falta de um irmão, à necessidade de experimentar comportamentos que a sua ética diz não serem os melhores, mas não é de todo prejudcial, pode até funcionar como um escape saudável para o stress e, entre outras coisas, a ajudar a criança a combater os seus medos".

Aos poucos a criança acabará por conseguir distinguir por si só o mundo real de um mundo de fantasia por ela criado.

"Embora não haja uma idade definida, é razoável que os amigos imaginários se mantenham presentes na vida da criança até por volta dos seis anos de idade. A partir daí a criança já deve ter noção do que é real e do que é fantasia", refere o pediatra, ressalvando que quando desenvolve este tipo de amizade "na grande maioria dos casos a criança é perfeitamente normal, mas com momentos de vulnerabilidade e de solidão, o que, por si só, não traduz nada de patológico. Só quando esta realidade se mantém depois dos seis anos de idade, ou quando faz desaparecer quase por completo a realidade do dia-a-dia, é que os pais devem ficar atentos ao fenómeno e procurar a ajuda de um profissional. Antes disso não há motivos para preocupações", diz o especialista, que acredita que no momento certo a criança acabará por "matar" o tal amigo, sem dor.»



Como lidar com os amigos imaginários das crianças?




  • ter consciência de que é um fenómeno normal;


  • não negar a sua existência, nem ridicularizar a criança, devendo antes responder-lhe com frases curtas de aprovação, mas não demasiadamente intrusivas;


  • não alimentar demasiado a ideia, ao procurar saber pormenores;


  • dizer: 'um dia era engraçado escreveres isso ou fazeres um livro de desenhos, com o teu amigo', para aproximar a criança da realidade, mas de um modo soft e sem prazo marcado;


  • os pais têm de sentir que este é um modo extremamente inteligente e criativo de a criança se defender e criar factores protectores;


  • as crianças podem também usar os amigos como objectos de descarga de sentimentos meno bons, tais como a raiva ou a angústia;


  • as conversas tidas com os amigos imaginários, e toda a relação que têm com eles, deverão fazer com que os pais reflictam sobre o que os filho expressam, os seus medos e o que eles, pais, poderão corrigir e apoiar;


  • se os amigos se mantêm após os seis anos, se a relação com eles se torna demasiado intensa fazendo esquecer a realidade, então a ajuda de um psicológo será bem-vinda.

Deixo-vos alguns artigos que encontrei no mundo virtual:


Psicologia e Reflexão


Educare


Boa semana**

2 comentários:

  1. Olá,
    Que interessante :)
    O Gustavo tinha um até há bem pouco tempo... era o Afonso! Mas parece que já o "matou"!
    Bjs

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  2. ;)
    Boa!!!Crescimento normal e saudável!!!
    Beijo**

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